quinta-feira, 8 de julho de 2010

PM tem quatro psicólogos para 33 mil soldados

Enquanto a PM baiana tem a seu dispor 4 psicólogos, a do Rio de Janeiro tem cerca de 60.

O soldado PM Edvaldo Costa Santos, 40 anos, sofre de esquizofrenia; o tenente Jeferson Pereira Ribeiro, 40, desenvolveu dependência química ao crack; o soldado Mário Laranjeira Filho toma remédios contra depressão há cerca de um ano. Embora o comando da Polícia Militar (PM) não divulgue números, problemas como estes são frequentes entre membros da corporação.

Casos de suicídio, transtorno psiquiátrico, dependência a álcool e outras drogas são comuns. Apesar disso, a PM possui rede de atendimento psicossocial limitada, levando se em conta a tropa de 33 mil homens na Bahia.

Transferido há cerca de seis anos do Batalhão de Guardas da PM para a reserva, já prestes a se tornar capitão, o tenente Jeferson é um exemplo.
Dependente alcoólico e viciado em crack, ele é hoje figura conhecida entre policiais e usuários de drogas que transitam pelo Centro Histórico de Salvador. Esquálido, internado na UTI semi-intensiva do Hospital Agenor Paiva desde 9 de junho último, após mais uma crise, ele se mostrou agressivo ao ser questionado sobre sua trajetória.

“Vá falar com o comando geral. Eu não tenho nada para contar”, gritou.
A historia do soldado Mário Laranjeira, da 55ª CIPM (Ipiaú), também impressiona. Preso em 2009, depois de postar no Orkut que estava processando um tenente, o policial vai voltar à ativa. Depois da ameaça de demissão, engordou e sofre de depressão e síndrome do pânico.

A psicóloga Lucila Dórea, coordenadora da Clínica Professor Nelson Pires, antigo sanatório São Paulo, no Aquidabã, explicou que atividades que expõem pessoas à tensão constante, como no trabalho policial, podem desencadear doenças psicológicas, como transtornos pós-traumáticos, síndrome de pânico, insônia, e até levar alguns desses trabalhadores a desenvolverem dependência química ao álcool e outras drogas.

A Polícia Militar da Bahia conta com apenas quatro psicólogos e dois assistentes sociais para atender a toda a tropa do Estado. Para efeito de comparação, o chefe da unidade de psicologia da PM baiana, o major Antônio Basílio Honorato Barbosa, revela que a PM carioca, que tem um efetivo próximo ao da Bahia, tem ao seu dispor cerca de 60 psicólogos.

No interior da Bahia, não há atendimento psicossocial porque todos os profissionais da PM que prestariam a assistência são lotados no Serviço de Valorização Profissional ( Sevap), em Salvador.Para internamento de policiais que sofrem de problemas mentais existe apenas uma unidade disponível: a Clínica Professor Nelson Pires.

Outra deficiência é que, durante toda a carreira, o PM baiano é submetido a uma única avaliação psicológica:o psicoteste, ao ingressar na corporação. Nos casos de PMs que sofrem de dependência química, o atendimento também é precário. Existe apenas tratamento ambulatorial.
Não há clínicas de desintoxicação para internamento de alcoólatras e drogados.

O major Antônio Basílio Honorato Barbosa admite a deficiência. Já o coronel Legsamon Mustafa, hoje vereador, que comandou o Sevap por dez anos, critica o serviço oferecido aos PMs. “Tinha apenas dois psicólogos, poucos assistentes sociais. Até para sepultar PMs eu contava com a ajuda das associações da categoria, porque não tinha verba”, revela.